Com fim do ano que se aproxima, e o começo de novo ano como mais um ciclo em nossas vidas, eu como responsável e
editor deste blog venho desejar um ótimo 2014 e sugerir uma leitura de reflexão relacionando o nosso cotidiano,
a tecnologia contemporânea.
É difícil argumentar contra a ideia de que a tecnologia vai mudar mais nos
próximos 10 anos do que já mudou nos últimos 100. A velocidade dos avanços
tecnológicos tende a dobrar a cada década, o que significa que, até o fim deste
século, a tecnologia estará mil vezes mais avançada que nos dias atuais. A base
para essas estimativas é parecida com a dos juros compostos: os avanços já
alcançados aceleram novas descobertas que, por sua vez, servem de ferramenta
para novos avanços, num ciclo virtuoso que cresce em progressão geométrica. Para
se ter uma ideia, foram necessários 14 anos para sequenciar o vírus do HIV, mas
apenas 31 dias para se chegar ao genoma da gripe asiática – um esforço
semelhante feito apenas alguns anos depois.
Não precisamos ir muito longe. Há poucos meses, congelei células-tronco
da minha filha recém-nascida, procedimento que, hoje, serve para curar meia
centena de doenças (inclusive leucemia), mas que, há poucos anos, não passava
de ficção científica. Igualmente pertenciam ao terreno da fantasia coisas que, hoje,
são reais como nanorrobôs que entram no organismo para limpar artérias, em vez
das antigas cirurgias de alto risco. Também já são realidade organismos
geneticamente modificados para coisas tão fúteis como peixinhos fosforescentes ou
tão úteis como limpar os vazamentos de óleo nos oceanos, só para citar alguns
exemplos. Nesse contexto, não dá para saber ao certo onde o mundo estará daqui a
50 ou 100 anos. Podem-se prever carros elétricos que se autodirigirão a destinos
programados usando rotas controladas por computador, ou aparelhos de telefone
integrados com TV, rádio e internet e demais canais de comunicação implantados
diretamente em nossos órgãos sensoriais. Se aceitarmos o fato de que, nos
próximos 10 anos, a tecnologia avançará mil vezes mais do que já avançou em toda
a nossa história, é simplesmente impossível prever o futuro.
Por outro lado, há coisas que evoluem tão lentamente que permitem, sim,
imaginar como serão no próximo século. Coisas que fazem parte da nossa
constituição humana, das nossas tradições, cujas mudanças ocorrem com
velocidades infinitamente mais lentas do que as da tecnologia. Refiro-me a questões
como preconceito, avareza, egoísmo. A cada minuto, morrem, por causa da fome ou
de doenças curáveis, cerca de 10 crianças. No mesmo mundo em que os recursos
naturais de uma nação, como o petróleo ou a soja, respondem por boa parte de sua
riqueza, as mesmas pessoas que participam da sua extração e produção pertencem
às camadas mais pobres, mais miseráveis da população, deixando essa riqueza na
mão de uns poucos privilegiados. A tecnologia é capaz de ajudar uma mãe a dar à
luz uma criança em condições que, outrora, seriam impossíveis. No entanto,
morrem, ou são mutilados, milhões de seres humanos, simplesmente por terem
nascido do lado errado das fronteiras, ou por terem determinada cor de pele ou
crença religiosa. As nações se unem na busca da paz, e o organismo máximo que
as coordena, a Organização das Nações Unidas (ONU), é controlado pelos cinco
países que têm poder de veto e, não por acaso, são os cinco maiores fabricantes de
armas do planeta que gastam em campanhas militares, a cada minuto, mais de
US$3 milhões.
A boa notícia é que há luz no fim do túnel. A mesma perenidade das nossas
atitudes mais vis também se aplica às nossas emoções mais nobres. Posso prever,
com alguma dose de certeza, que daqui a 20 ou 100 anos, ainda valorizaremos a
ética, a integridade e o respeito ao próximo. Posso garantir, até onde pode um
mortal oferecer garantias, que serão as nossas escolhas no presente que
determinarão o futuro das próximas gerações. Então, se por um lado, é certo que a
tecnologia pode ser usada para o mal, também o é que ela pode ser aplicada para o
bem e que sempre haverá pessoas de boa índole que, talvez, em algum momento
da nossa história futura, aprendam a não ficar omissas, a não aceitar o mal de
forma pacífica, a assumir a responsabilidade de agir para defender aquilo em que
acreditam. E, quem sabe, nesses tempos, a humanidade possa começar a se tornar
mais justa, distribuindo melhor a riqueza, eliminando as fronteiras que nunca
existiram de verdade e fazendo deste mundo, finalmente, um lugar onde impere a
paz, a justiça e a felicidade não só de alguns, mas de todos os seus habitantes.
(NASAJON, 2009, p.10 − Texto adaptado)